Onde estão os empregos?
Os setores que voltaram a contratar, os profissionais mais procurados pelo mercado e as oportunidades de negócios para quem busca encontrar novos caminhos na carreira e deixar para trás o pesadelo do desemprego.
Matéria por: Elaine Ortiz e Fabíola Perez - Isto É |
Como em tudo na vida, na economia também há o outro lado da moeda. Um lado, acredite, positivo.
Sim, há empresas contratando. Sim, algumas carreiras estão em alta. Sim, existem boas oportunidades de negócios. Sim, em plena crise encontram-se vagas de trabalho para pessoas como você. “É verdade que muitas empresas desligaram ou substituíram profissionais, porque foi um ano de arrumação da casa”, diz Ricardo Haag, diretor da Page Personnel, uma das maiores agências de recrutamento do Brasil. “Mas agora existe uma abertura maior do mercado e espaço para investimentos.”
A ISTOÉ consultou especialistas em recursos humanos, profissionais de gestão de carreira e as próprias empresas para constatar que, apesar da crise profunda, é possível avistar ilhas de prosperidade. Algumas são óbvias. “A maioria das empresas precisa e contrata profissionais da área de tecnologia”, diz Fernanda Schroder, gerente nacional de carreiras do Ibmec. O agronegócio, que impulsionou o PIB brasileiro nos anos de fartura e que prevê safra recorde em 2017, é outro caminho conhecido para se recolocar.
Além das referências de sempre, há boas surpresas do mercado. A indústria farmacêutica passou ilesa pela hecatombe econômica. Impulsionada pelo envelhecimento da população, pela diversificação de produtos e pelos efeitos nefastos da crise, que produziram mais doentes, ela permanecerá em alta ao longo de 2017 e nos anos seguintes. Em tempos de cortes de custos, os segmentos ligados às finanças das empresas também estão em evidência. “As áreas comerciais, tributárias e de novos negócios são vistas com otimismo”, afirma Fernanda. Profissionais de controladoria, que investigam a situação financeira das companhias, e especialistas em marketing digital, que promovem marcas na internet, encontram saídas igualmente promissoras.
ADEUS, INFORMALIDADE
A administradora Rafaella Odriozola recorreu ao trabalho informal enquanto não conseguia se recolocar no mercado: após nove meses, conseguiu uma vaga em marketing.
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Congresso, deve levar a alguns avanços. Entre outros aspectos, o projeto aumenta o tempo de contrato para trabalhadores temporários, estimula a contratação de jovens, mães e pessoas com idade avançada. Em dezembro, o governo também enviou para votação outra reforma espinhosa, a da Previdência. “Essas mudanças são positivas no longo prazo porque sinalizam ao investidor um ambiente de negócios mais seguro”, afirma André Sacconato, diretor de pesquisa do Instituto Brain Brasil.
Condições favoráveis
No curto prazo, um anúncio feito na semana passada tem potencial para acelerar a retomada. Na quarta-feira 11, o Banco Central cortou a taxa básica de juros da economia brasileira de 13,75% para 13% ao ano, a maior redução em 5 anos. Até o final de 2017, o mercado estima que o índice pode estar abaixo de dois dígitos. Taxas menores estimulam o crédito, alimentam o consumo e produzem efeitos positivos em cadeia. “Com os juros em queda, o empresário retira dinheiro do mercado financeiro para aplicar em outros setores”, diz Sacconato.O clima de incertezas fez muitas empresas ajustarem suas estratégias. Resultado da união das gigantes Cosan e Shell, a Raízen conseguiu manter a média de contratação de 50 profissionais por mês nas áreas de logística, programação, controle, marketing e finanças. “Foi um ano difícil em relação ao ambiente externo, mas fizemos a nossa parte, controlamos custos, investimos na produtividade e nos recursos humanos”, afirma Marina Quental, vice-presidente de desenvolvimento humano e organizacional. Para permanecer imune à crise, a companhia investiu em tecnologias capazes de melhorar processos. Atualmente, a Raízen possui 380 estagiários em diversas áreas e a meta é contratar metade desse grupo. Em um cenário cada vez mais competitivo, os processos de seleção, explica Marina, são complexos. “As competências técnicas são o primeiro degrau, mas o peso maior é o comportamento do candidato e a capacidade de adaptação à cultura da empresa”, diz.
O setor de é pródigo em oportunidades. Maior companhia privada de distribuição de energia do País, a CPFL projeta abrir, em média, 400 vagas por mês ao longo de 2017. Uma das estratégias para sobreviver às dificuldades econômicas foi o novo foco em energias renováveis. “Não sofremos grandes impactos porque levamos energia à casa dos consumidores”, diz Daniela Sguassabia Domingues, diretora de gestão de pessoas e performance. “É um serviço de primeira necessidade.”
Não são apenas os setores básicos da economia, como o de energia, que oferecem perspectivas. O mercado pet é um fenômeno no Brasil. Em 2017, deve faturar R$ 19 bilhões, alta de 5,7% em relação ao ano passado. Foi nesse nicho que o engenheiro químico Alexandre Cabrelli, de 40 anos, decidiu se arriscar. Depois de pedir demissão de uma rede de supermercados, em novembro do ano passado ele foi contratado como gerente de obras de uma gigante especializada em vender produtos para animais domésticos. “Não tive medo de fazer essa opção porque queria atuar em um setor que estivesse em expansão”, afirma. Outro segmento que segue firme e forte é o de galpões logísticos. No Brasil há apenas quatro anos, a GLP oferece o serviço e viu seus lucros aumentaram 52% no terceiro semestre de 2016 em relação ao anterior. Não à toa, passou a atrair mão de obra qualificada. O engenheiro mecânico Ricardo Baracat, 36 anos, trabalhava em uma empresa familiar de embalagens plásticas até a companhia ser vendida. Um mês depois, ele começou a dar expediente na GLP como gerente dos galpões. “A contratação foi rápida porque somei minha experiência como sócio aos conhecimentos operacionais”, afirma. “Era o que a companhia buscava.”
Nem todas as pessoas contam com a mesma sorte. Após tentarem por muito tempo uma recolocação, simplesmente se cansam da busca e abandonam o mercado de trabalho. Nesse momento, o profissional deixa de ser oficialmente um desempregado e isso se reflete nas estatísticas, que podem indicar uma diminuição na taxa de desocupação sem, de fato, representar uma mudança real. “É o efeito perverso dos dados”, diz o economista e professor do MBA Executivo do Insper, Otto Nogami.
“Por isso, é preciso entender todo o contexto antes de tirar conclusões precipitadas”. Para esse enorme contingente de pessoas que desistem de buscar empregos convencionais, a velha saída é a informalidade. São engenheiros, economistas, administradores e muitos outros profissionais que utilizam suas competências e conhecimentos para a sobrevivência. Ainda assim, até mesmo o mercado informal teve dificuldade em absorver o universo de desempregados. Segundo o IBGE, o Brasil perdeu mais de 1 milhão de trabalhadores por conta própria no terceiro trimestre de 2016 em relação ao segundo trimestre. Mas há quem continue tentando. “Fala-se aqui em ‘trabalhidade’ e não apenas em ‘empregabilidade’”, diz Fernanda, do Ibmec. “Quem precisa de renda, empreende”.
É o caso da administradora de empresas Rafaella Rodrigues Odriozola, 29 anos, que fez somente quatro entrevistas durante os nove meses em que ficou sem emprego. A multinacional em que trabalhava no ramo de máquinas gráficas cortou cerca de 50% de seus colaboradores em 2015. Ela decidiu então abrir uma empresa de personal chef, cozinhando na casa dos clientes. Agora, se recolocou no setor de vendas e marketing, mas com contrato temporário, outra tendência em momentos de crise. “Quando há incerteza política e econômica, o empresário fica temeroso de contratar, porque ele tem a consciência de que os custos da mão de obra são muito altos em caso de demissão”, diz Nogami, do Insper.
VIRADA PROFISSIONAL
Profissionais experientes e com carreira internacional também tiveram problemas para se recolocar. A executiva Cíntia Le Lann, 38 anos, atuou por quase uma década em cidades como Londres e Nova York, em uma das maiores empresas de produtos de limpeza e higiene do mundo. Em 2014, desligou-se do emprego para acompanhar o marido francês, que foi transferido para o Brasil. “Imaginei que, por ser brasileira, conseguiria entrar no mercado mais facilmente, mas cheguei em meio à Copa do Mundo e no início das crises política e econômica”, diz. Resultado: Cíntia ficou quase dois anos desempregada. Foi contratada apenas em agosto de 2016 para a área de compras da Sanofi, multinacional no mercado farmacêutico, um dos setores que não sentiu os efeitos da recessão. A EMS, outro gigante da área, contrata cerca de 80 profissionais todos os meses. “Apesar do cenário de crise do País, não estamos adiando nossos planos de expansão e continuamos buscando pessoal qualificado”, diz o vice-presidente de Pessoas e Gestão da EMS, João Dornellas.Ao contrário da indústria farmacêutica, a construção civil amargou sérias dificuldades no ano passado e alguns profissionais tiveram que buscar oportunidades em outros Estados. A engenheira civil Manoela Cristina Neves, 30 anos, fez as malas e trocou o Rio de Janeiro por Minas Gerais para trabalhar em uma empresa de projetos, mesmo por um salário menor do que o que recebia antes de ser demitida, em janeiro de 2016. “É desesperador ficar desempregada”, diz. “Pretendia trabalhar em loja de shopping no Natal caso não conseguisse emprego”. A boa notícia é que o setor de construção já apresenta no horizonte nuances de retomada, que também tem sido incentivada por ações do governo. O Construcard, linha de crédito de R$ 7 bilhões para construir, reformar ou ampliar imóveis, foi relançado recentemente e já traz reflexos positivos. Em São Paulo, lojas de materiais de construção abriram unidades e o Sindicato da Indústria da Construção Civil estima um crescimento de 0,5% do PIB do setor em 2017.
Empresas de consertos e reformas também reaquecem o segmento, mas por outro motivo: em tempos de crise, as pessoas deixam de comprar imóveis, mas não de reformá-los. A paulistana Manserv, que presta serviços de manutenção predial, contratou 447 colaboradores somente nos primeiros onze dias de 2017. Trata-se de um fenômeno de natureza comportamental do consumidor. Ele pensa que, se não pode comprar itens novos, pode investir em serviços de manutenção de seus bens antigos. “Todos os setores que compensam a não realização de um desejo são aqueles que costumam crescer mais em momentos de crise”, diz Nogami, do Insper.
Enquanto a recolocação não acontece, especialistas aconselham investir em cursos de capacitação e em uma boa rede de contatos.
O desemprego não é um problema circunscrito ao Brasil. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, o contingente de desempregados no mundo aumentará em 3,4 milhões até 2018, sobretudo entre os jovens – África do Sul, China, Espanha e Índia são algumas das nações que mais sofrerão com os altos níveis de desocupação. A recessão, aliada aos avanços tecnológicos, explica o fenômeno em escala mundial, inclusive em economias industrializadas. “A Europa está num nível de educação e renda per capita muito alto e sofre com a dificuldade de gerar mais empregos”, diz Sacconato, do Brain Brasil. “É um problema muito sério, estrutural e não temporário”.
Para os 12 milhões de brasileiros que precisam se recolocar no mercado de trabalho imediatamente, a notícia de que há vagas pode ser reconfortante. O desafio é manter o foco, saber onde procurar e, se for o caso, apostar na readequação de carreira para áreas mais aquecidas. “É preciso ser assertivo, desenvolver uma boa rede de contatos e, enquanto estiver parado, investir em cursos de capacitação para a recolocação ocorrer mais rapidamente”, diz Fernanda Schroder, do Ibmec. Ou seja: mesmo em um cenário tão tortuoso, há caminhos para deixar o pesadelo do desemprego para trás.
Tecnologia, agronegócio, finanças, contabilidade e indústria farmacêutica são áreas promissoras para contratação em 2017.
Em alta
As carreiras que oferecem oportunidades
Cientista de DadosProfissional da área de exatas dedicado a garimpar, analisar e enxergar tendências em dados. A alta demanda se dá por conta do desenvolvimento de áreas de inteligência de mercado nas empresas.
Gerente de Acesso
Responsável por criar estratégias de acesso da empresa em mercados públicos e privados, o profissional geralmente tem formação na área da Saúde ou de Administração.
Supervisor de PCP – Planejamento e Controle de Produção
Define e coordena todo o processo produtivo em grandes indústrias.
Analista Contábil
Analisa, classifica contas, faz balanço da empresa e relatórios finais para diretores e investidores.
Desenvolvedor Mobile
Programa e desenvolve aplicativos para plataformas de celular.
As vagas por região
As regiões que oferecem mais vagas, segundo um dos principais sites do mercado.
7.955
Sudeste
1.235
Sul
691
Nordeste
609
Centro Oeste
205
Norte
As áreas para investir
Onde o mercado está mais aquecidoConstrução civil
Depois de dois anos de retração, o setor ensaia uma retomada. Com a demanda reprimida por imóveis e os programas de concessão, a tendência é de alta.
Tecnologia da informação
Cada vez mais empresas investem em serviços e soluções digitais, o que abrirá novas frentes para profissionais do setor.
Indústria farmacêutica
O envelhecimento da população e a diversificação de produtos blindaram o segmento da crise.
Financeiro e Contábil
Em tempos de reestruturação financeira, necessária diante da recessão econômica, muitas empresas carecem de profissionais especializados.
Fonte: IstoÉ
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Reviewed by Fernando Mendes
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